quarta-feira, dezembro 15, 2010

É campeão!

Desde pequeno, entre suas primeiras palavras estavam: Rio Branco! Tudo bem, ainda era “Rio Blanco”, mas quem se importa? O estádio era sua diversão. Ali aprendeu a sorrir, gritar, chorar e até xingar. Churrasquinho, fumaça e emoção. Sua arquibancada era ainda um barranco quando viu seu time, ainda “Rio Blanco”, enfrentar de igual para igual grandes times como Vasco da Gama e Corinthians.

O tempo passou, a paixão só aumentou. Momentos lindos ficaram em sua memória, só não recordava de ter gritado: “é campeão!” Essa era uma palavra que ele ainda não tinha motivos para usar. Isso incomodava.

Por que não ser Flamengo?

Mas não. Preto e branco era o seu manto. O pequeno capa-preta cresceu e sofreu. Nas arquibancadas sua voz tinha a mesma força, mas o eco diminuia. O coro virava solo. A emoção era outra. O choro tinha outro motivo. Ele nunca imaginou, mas até gritar “Rio Branco!” havia perdido o sentido.

Uma, duas, três, dezenas de vezes e decepção veio. Aquele barranco não existia mais. O grito foi abafado. A camisa virou recordação. O que aconteceu? A pergunta que existia dentro dele não era respondida em lugar algum. No jornal, lia as notícias com desdém, mas no público pagante, ele sabia que faltava alguém.

O tempo passou. Mas em pleno domingo, ele não conseguia atravesar a ponte. Que torcida é essa que marchava a ponte exatamente na hora em que ele passava? Ele teve que esperar. Aliás, esperar é algo que ele fez muito em seus 24 anos. Seu peito insistia em acompanhar os tambores, ele nunca tinha esquecido aquele ritmo. Os fogos fizeram explodir de novo aquele sentimento. O medo de se decepcionar foi escondido quando uma enorme bandeira tremulava ofuscando o sol diante de seus olhos.

Decidiu ir para o estádio. Não era aquele velho barranco. Mas ele viu que velhos conhecidos nunca tinha deixado de gritar “Rio Branco!”. Sou Brancão! Sou capa-preta! O estádio estava cheio. Ali definitivamente estava o mais querido do Espírito Santo.

Ele sorriu, gritou, xingou. Tudo havia voltado ao normal. Nessa hora, foi difícil segurar o pranto. O Rio Branco deixou de ser recordação. Por um instante até se perguntou: - Onde estava mesmo aquela camisa? Mas a paixão ele sabia, sempre esteve em seu coração. Então, ele pôde enfim gritar: É campeão!


Este conto é de minha autoria e será publicado no livro do Rio Branco Atlético Clube com histórias da conquista de 2010.

*Ilustracão: Bruno Franco

2 comentários:

Unknown disse...

caraca flávio arrepiei aki mlk... na moral parabens, e esse livro? como fica

Cesar Costa disse...

Mando mto bem Flávio, só de lembrar do nosso bonde descendo a ponte dá um frio na barriga, dia inesquecível pra todos os Capa Pretas de verdade.
Grande abraço parceiro!